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poema 218

quinta-feira, junho 18, 2020

esta pedra não é e não será
esta pedra não
é aquela pedra nem está
no meio de nada.

parada, a pedra
ali ao lado, à margem
existe apenas
sem função nem intenção,
sem reflexo-questão de si ou qualquer outra coisa.

existe mesmo tal pedra?
assim, inútil e miserável de sentido?
brotou do chão ou caiu do vazio celeste
e não fez nada além de nada. existe isso?

que sim. deve existir.
não sei ao certo, mas espero
que a existência seja mais
– nem que seja por muito pouco –
seja mais do que o meu, o nosso
entendimento.

(o entendimento deles)

pobre pedra…
agora no centro (nunca no meio!)
do meu pensamento.

na palma da minha mão, sua ontológica
imobilidade foi desfeita.
e, agora, o que eu faço?

se solto, a pedra cai.
se jogo, a pedra vai.
seja como for, a pedra faz,
e o nada que ela não fazia
nunca mais será feito.

escrevo meu nome nela.
nomeio a pedra.

é meio então a pedra
fora do meio?
outros que aqui passarem,
vendo-a assim na beira,
lerão o meu
ou o nome da pedra?

adiante pelo caminho,
sem meio nem destino
certo ou definido,
não sei se sigo menos eu
ou se avança mais a pedra.