Quando eu era moleque, já gostava do Laerte e dos Piratas do Tiête, do Overman, dos Gatos, dos Palhaços e de todos os personagens dele. O traço era simples e bacana, facinho para qualquer um se simpatizar pelo cara. O texto também era bom, humor da melhor qualidade — você lia e já achava engraçado. Mas eu era moleque e que sabe um moleque sobre alguma coisa nesse mundo vasto?
Então, não tendo mais o que fazer, fui crescendo. E as tiras do Laerte, foram mudando. Comecei a notar isso lendo uma sequencia de tiras do Homem-catraca, há uns quatro ou cinco anos. O traço era (e é) o mesmo, mas as tiras não eram mais engraçadas — pelo menos não todas. Às vezes, não tinha nada escrito, às vezes tinha demais, às vezes, onde deveria ter humor, tinha um puto incômodo. Incômodo! É isso, muitas vezes, aqueles três ou quatro quadrinhos publicados pela Folha me causavam um puta incômodo. E isso me atraía ainda mais.
Parecia que, dentro daqueles traços tão simpáticos, ele começava a jogar granadas. É como se ele destruísse o esqueleto da coisa. Mas não com um texto caústico como, por exemplo, o do Dahmer. Às vezes, quando leio uma tirinha do Laerte, o que tenho é um puta sentimento de vazio, do qual se desprende uma tênue sensação de beleza.
Talvez “beleza” não seja a palavra certa. Nem sempre é belo o que eu vejo nas tirinhas dele. Mas com certeza, desde que ele mudou e eu cresci, comecei a vislumbrar qualquer cosia de sublime (sem dúvida, sublime!) em muitas de suas tirinhas.
…
puta que pariu!