O caminho vai ficando árido sem que a gente perceba, sabe? É difícil explicar. Ainda mais porque é desnecessário e você sabe disso. Mas foi assim comigo e talvez não será diferente com você… se é que já não foi…ou se é que não é.
Então. Eu tava dizendo, o caminho. Quando eu olhei era um deserto. A estrada seca seguia numa monótona linha reta pelo que parecia milhares de quilômetros a minha frente. E olhar pra trás não era nem um pouco melhor, porque era igualzinho, só que dava pra ver umas pegadas, que indicavam de onde eu tinha vindo. Dava até pra me consolar pensando que eu tava seguindo uma direção.
Bom, foi isso que eu pensei logo de cara. Mas… hunf… alguns segundos parados olhando pra frente e pra trás, tentando entender aquele caminho. Pra frente e pra trás, pra frente e pra trás… e.
E onde e que tavam as pegadas? O caminho tinha engolido as pegadas, sacou?
Mas tudo bem. Eu ainda sabia o que era frente e o que era trás. Sabia? Porque aí eu comecei a pensar. Eu tava no meio de uma linha. A linha vinha de um lugar e ia pra outro. Mas eu não sabia que lugar era um e outro, porque, até onde eu via, dava pra perceber que, de um lado, a linha seguia até bem depois de onde o horizonte derretia na visão e do outro também! E se eu já tivesse alguma vez parado e, sem perceber que o caminho engoliu minhas pegadas, tivesse começado a andar de volta?
Humm… ok andar de volta ainda seria uma direção, mas.
Mas e se eu, andando de volta, tivesse por acaso parado e, sem perceber que o caminho engoliu minhas pegadas, tivesse começado a andar de volta da volta? Pior! E se isso tivesse se repetido? Ainda mais de uma vez! Ai ai ai…
Aí você já viu, né. Eu olhei ao redor e não melhorou nada. O chão, por toda a extensão, era reto, plano, chato pra não ter variação nenhuma. O solo, de um lado, vermelho e poeirento de secar até a garganta da alma de quem visse, e do outro, ha!, não preciso nem dizer… diferente não era, seguia assim até os fundos de qualquer horizonte. O chão só mudava mesmo, um pouco, na linha reta do caminho, mais amarronzada. Acho que era porque o caminho era mais pisado, né. Ainda que ele engolisse as pegadas.
E eu tava lá… no meio daquela linha. Sem nenhuma pedrinha pra chutar.